Costumo guardar aqui só coisas minhas - escritas por mim, mas como aquilo que eu leio de certa forma torna-se também meu, a partir de agora passo a encaixotar passagens das leituras que faço, e que me fazem: 

"Se das riquezas, que eu queria só pra mim, se do seu amor, que eu não queria que fosse senão meu, inteiro e todo!"

"Afrontei o arrocho da tortura, entre os ossos e carnes amachucadas e unhas e cabelos repuxados. Dentro das paredes do segredo não havia gritos nem palavras grossas: os padres remordiam a minha alma, prometendo o inferno eterno; e espremiam o meu arquejo decifrando uma confissão..., mas a minha boca não falou... não falou por senha firme da vontade, que não me palpitava confessar quem era ela e que era linda..."

"Dentro do meu sofrer floreteou uma réstia de saudade do seu cativo e soberano amor..., como em rocha dura serpenteia às vezes um fio de ouro alastrado e firme, como uma raiz que não quer morrer!"

"A alma é um peso entre o mandar e o ser mandado."

"Alma forte e coração sereno!"

"Mas governa o pensamento e segura a língua: o pensamento dos homens é o que os levanta acima do mundo, e sua língua é o que os amesquinha..."

Simões Lopes Neto.

O último soluço antes das balas adentrarem

Talvez um copo de cerveja ou outra coisa qualquer

O anseio que fala de vida e de desesperanças

Que nada mais são que esperanças esquecidas.

Um mundo justo para todos foi o que sonhamos

Não espere rimas do que nunca pode ser rima

Porque o mundo de frases bonitas necessita

Da mesma harmonia entre métrica e justiça

Fazemos o que podemos, mas nem o que podemos

Parece ser bastante. Na verdade, nada basta!

Enquanto discutimos sobre as melhores alternativas

Vocês escolhem porcos, ou melhor, menos que porcos

Porque os porcos merecem respeito além de lama

Mais respeito do que qualquer humano

Que se acha parte de um espetáculo perfeito

Mas não passa de um animal tolo e irracional

Mesmo que os livros nos chamem de sapiens
Em qualquer espelho não somos mais que partículas
Insignificantes momentos, feixes de luz
Ou de uma escuridão que pensa mais do que sabe.
Debruçado à janela ouço o som do violão
Quando presto a atenção no cair da tarde
Talvez os quilômetros sejam apenas disfarces
E talvez nem separem realmente as pessoas

Há algo nas entrelinhas que ninguém explica
Quando no caos cotidiano os segundos param
E a vagarosa paleta laranja contrapondo o tempo
Faz orquestra sensitiva ao ouvir o tom no vento

Porque eu posso ouvir, posso te ouvir, irmão
Talvez ninguém compreenda essa sensação
E as bancas acadêmicas nunca irão entender
A incrível conexão simbiótica entre eu e você.

Porque eu posso ouvir, posso te ouvir, irmão
E toda a nostalgia da nossa linda canção
Seja à beira mar ou numa caverna moderna
Eu estarei te ouvindo num pôr do sol em festa

Existem momentos em que é necessário parar
Quebrar as correntes do sistema automático
E descobrir em si coisas que não te contaram
A magia de tudo que ainda não é conhecido

Há portais escondidos em cada raio solar
Coisas que estão bem além da imaginação
Se ninguém entender quem sabe contaremos
O segundo sol existe e só nós dois sabemos.
Estive pensando em ti
Nas últimas e nas primeiras horas
O relógio marcou saudade
No momento que você foi embora

Então tudo é relativo
Como disseram os intelectuais
Quem sabe descreviam a vida
Em seus momentos anormais

Aliás, anomalia e não te ter
Passar a vida apenas existindo
É ver o mundo e não o viver

Insanidade é dimensionar
O tempo no senso comum
Quando o sol desaparece
Partindo pra lugar nenhum

Tua ausência desconfigura
A arquitetura universal
E no meu mundo o calendário
Tem sentido anormal

Aliás, anomalia é não te ter
Passar a vida apenas existindo
É ver o mundo e não o viver
Nosso diário

Moça, tu fazes parte da minha vida
Mesmo que hoje estejamos distantes
E venho te dizer que eles ainda existem
E são os mesmos fantasmas de antes
Aos meus quatorze também descobri
Boa parte do que tu descobristes
Uma paixão e muitos vários medos
Receios que até hoje persistem
Então moça, eu aprendi contigo
Vi que nunca estive só nas incertezas
E também notei que assim como eu
Tu também fostes pega de surpresa

Moça, seria uma insanidade comparar
O meu complexo com o teu anexo
Mas assim como diria aquele rapaz
Eu também sou um latino perplexo
Moça, estou aqui fazendo silêncio
e procurando palavras no dicionário
Tenho certeza  de que se eles chegarem
Não conseguirão rasgar o nosso diário 

Moça, sabes que os anos passaram
E realmente várias coisas aconteceram
É certo que algumas melhoraram
E outras infelizmente pereceram
Mas moça, inocentes ainda morrem
E há gel para o cabelo dos poderosos
Ainda falta pão na mesa da maioria
E fantoches fanáticos são religiosos
Ah moça, tu te questionavas sobre tudo
Amores, tabus, guerras e violência
E sonhavas com um futuro melhor
Onde o Homo tivesse sapiensia
Reuni todas as palavras que circundam minha mente
Pensei inúmeras rimas, quis fazer um verso diferente
Imaginei todos os objetos que nessa vida conheci
Pensei na natureza, na sua grandeza e não consegui

Inventei melodias, olhei para os livros da prateleira
Pensei em vender o carro ou qualquer outra besteira
Quis pegar um avião, um violão e me arriscar a cantar
Pesquisei Drumonnd, Lispector e comecei a caetanear

Olhei para tela que não gritava o que eu queria gritar
Pensei em momentos que a eternidade não vai apagar
Joguei tempo fora, fui embora, fiz questão de retornar
Inventei novos conceitos, mudei meu jeito para tentar

Mas ainda assim faltaram palavras para expressar
E nem o Fernando Pessoa conseguiu me ajudar
Eu só queria transmitir o que era verdade para mim
Que essa história não poderia acabar antes do fim
Poema à luz de velas

Os livros são só livros
Nada dizem ou ensinam
Os poemas só poemas
Não falam e nem rimam
As nuvens são só nuvens
Não desenham nada mais
A arte é apenas arte
Arquitetura sem catedrais

Os bares são só bares
Nem brindam ocasiões
As praças são só praças
Nada dizem as multidões
Os filmes são só filmes
Nem catarse há então
A música é só música
Uma desafinada canção

Nada faz sentido
Ou o sentido nada faz
Já não importa a ordem
Tudo já ficou pra trás
Tu partistes e levastes
A razão das coisas belas
E o que resta é a letra
de um poema a luz de velas

Pinturas são só pinturas
Noite estrelada sem azul
O destino não tem destino
Nem ao norte nem ao sul
Sorvetes são só sorvetes
Não adoçam o paladar
Tatuagens são só tatuagens
Sem signos pra decifrar

Os muros são só muros
Nem gritam por liberdade
Os vinhos são só vinhos
Nem afogam a saudade
Viagens são só viagens
Não elevam mais a mente
Cidades são só cidades
Praticamente sem gente


Som de guitarra para quem quisesse ouvir
A dama do rock e corações a se iludir
Todos queriam um espaço no teu eu
E eu sonhava com o espaço sendo meu

Oh, minha mãe, com ela eu vou casar!
Como Quixote, eu também posso sonhar
Palavras soltas sem a mínima ambição
Vidências cruas de um louco coração

Eu te vi de preto, camiseta Rock 'n' Roll
Eu te vi de perto, encantando com teu show
Eu te vi tão longe e nem pensei em arriscar
Eu te ouvi cantando e comecei a viajar

Por insegurança não notei aquele olhar
Que fitava o meu, eu nem podia imaginar
Eu era um nada sem nada a acrescentar
E mesmo assim invejariam o meu lugar

Então os moinhos se tornaram mais reais
Todos meus sonhos viraram racionais
Depois que li tua mensagem a convidar
Para um café ou talvez para matear

Eu te vi de preto, camiseta Rock'n' Roll
Eu te vi de perto, encantando com teu show
Eu te vi tão longe e mesmo sem arriscar
Eu te ouvi cantando e comecei a te amar

O que você faz quando não há mais o que fazer?
Para quem você corre quando não há solução?
O que fazer quando há gente companheira, mas...
Companheiros e companheiras da corrupção!?

Mas há quem diga que sempre haverá saída
Luz no fim do túnel, janela de oportunidade
Mas o que fazer quando o mito da esperança
Não tem ao menos um senso de humanidade?

Porém alguém sempre será a bola da vez
A galinha dos ovos de ouro, dona da verdade
Mas hoje a menina no centro dos holofotes
Tá de olhos vendados para a imparcialidade

Uns ainda dizem que o retrocesso é a saída
Diretamente desfazem nossas conquistas
Como se a história pudesse ser reescrita
E nesta feita desfeitas as memórias fascistas

Não acredito na força nem na leprosa retórica
Tampouco nas estrelas frias do longo inverno
Não creio em medidas pra salvar a economia
Quando feitas por bandidos que usam terno

Mas não pense que sou um mero descrente
Já vivi anos que repetem as mesmas histórias
Desde que embarcações apontaram no azul
E findaram com minhas melhores memórias
Dias escuros, florestas que assoviam
A canção da natureza, da bela natureza
Nevoeiro encantado entre a mata fechada
Nevoeiro que chora o fim da madrugada
São dias monótonos para os que não entendem
São dias felizes para os sensatos
Para aqueles que enxergam além do filtro
E se encantam com as cores mortas
Há muita perfeição na mata fechada
Há cores e vozes, orquestras afinadas
Também há um vazio que se faz refúgio
Para todos que teimam em serem diferentes
Há simétrica energia nos bosques solitários
Que envolve a alma de quem os aprecia
Dançando com o vento, partilhando detalhes
Do solo fértil para toda a poesia.
Teu labirinto é caminho sem rumo, mar de escuridão
Teu jeito insaciável é monstro insano, não pede perdão
Teu egoísmo é tétano que fere o peito, intoxica o ser
Tuas palavras levianas mordem a pele e fazem morrer

Não entendo o porquê de seres assim e não mergulhar
No mar de expectativas em que eu nadei para te encontrar
Tu crias escudos, te escondes da vida e perdes de viver
O filme bonito que eu escrevi para que tu possas ver

Que talvez a vida pudesse ser melhor, bastaria se entregar
A quem te quer bem e sabe que tem o melhor pra te dar
Não encontro lógica na necessidade de ter que perder
O roteiro da história para que assim tu possas perceber

Que sempre fui eu que estive ao teu lado e te fiz sorrir
Quando o mundo inteiro por vias leprosas parecia fugir
Espero que vivas toda a intensidade que o universo tem
E que um dia ainda possas retribuir o carinho de alguém.




Perdido em versões de mim mesmo
Olhei o espelho para talvez enxergar
Uma ideia distorcida da realidade
Que fizesse o tempo parar.
Tantas vezes abdiquei da vida
Outras tantas tentei despertar
Na busca de um equilibrio perfeito
Entre livros e mesas de bar.
Então não digas, guria
Que sou um cara superficial
Apenas me perco em mim mesmo
Mas sou incapaz de te fazer mal
Andando por ruas distintas
Vejo molduras de diversos mundos
Cada um com seu pseudo-ideal
Fugindo de um tal sono profundo
Por isso prefiro a minha neurose
Minha  eterna guerra particular
Meu interior, meu labirinto
Em que me perco sem notar.
Condenei-me à total solidão
Prometi não mais me envolver
Preferi mergulhar na razão
Do que me afogar no sofrer

Julguei não ser mais possível
Entregar-me de todo assim
Do jeito que entregara outrora
E que outrora sofrera sem fim 

Mas vi teus olhos sinceros
Bonitos como as catedrais
Oferecendo tudo o que quero
Ou talvez um pouco mais

Mas senti aquela nostalgia
Arrepio na pele, voz a falar
Que toda escuridão se dissipa
Quando o sol começa a raiar

Foi como voltar para casa
Depois de uma longa viagem
Ver a família reunida domingo
E desfazer toda a bagagem


Meia-noite, troca estranha de dia
Lua escura, solidão, sem alegria
Vazio no peito e o teu jeito
Sem defeito, a aterrorizar
Nesse estranho novo mundo
Poço profundo, fez-me afundar.

Passam-se as horas e não vejo cores
Não me saciam os amores
Fujo do amanhecer, não quero ver
O sol nascer e estampar
Nas luzes que enfeitam a manhã
A magia sã do teu olhar

Na insensatez do meu desejo
A escultura do teu corpo vejo
A me assombrar, me alegrar
Me deixar e ir embora
Sumir num segundo
Levar meu mundo e não retornar

Assim como a métrica do poema
Tua ausência é um dilema
Sem simetria, sem nada, vazia
E eu apenas queria fazer-te lembrar
Que em minha vida és constante
A todo instante quero ver-te retornar.

Destroços voam ao céu
numa Síria bombardeada
A medicina tanto avança,
mas a indústria a retarda
Saqueadores usam ternos
e andam livre na esplanada
As notícias que são realistas
Estão todas censuradas

A Palestina vai à luta
para não ser dizimada
Os comerciais de margarina
E a cruz abençoada
Afirmam que a guerra
é contra a milícia armada
"Não temos interesse
Não sabemos de nada!"

Conceitos se invertem,
no apogeu da informação
Ninguém se importa
Com a origem da questão
Esquia-se em cima
da manchete manipulada
E quem tanto faz discurso
Muitas vezes não diz nada

Fecham-se os olhos a noite
E todos dormem felizes
Com a consciência limpa
Olhando pro's seus narizes
Esquecem-se que aí fora
existe um mundo de infelizes
Que lutam para viver
e estão cheios de cicatrizes

No Rio ainda há bossa nova
e outra  menina estuprada
A realidade é um paradoxo
E a música bem cantada
Há tanta coisa boa
Nesse mundo brasileiro
Quando não se fala em moral
Nem em poder ou dinheiro.


Poema 19

Cartografei tua passagem
ao modo que podia
rima das entrelinhas
oculta na poesia
levei meu pensamento
inteiramente ao passado
notei que seria fácil
abraçar-te num rimado

Se alguém me perguntar
a razão destas palavras
serei franco ao dizer:
semântica censurada
ou talvez versos pra amada.

Beijei versos para ti
intensamente insano
sem saber ao certo
se é certo ou profano
o fiz
Pergunto-me onde andas e qual teu codinome agora
Que tatuagem tens em mente, quem te faz perder a hora
Ensaio mil gestos e falas pra hora que te encontrar
Faço caras, mudo o tom, só pra tentar impressionar

Da minha vida fiz um palco desde que te vi partir
Em meu teatro cotidiano procuro um jeito de sair
Sair do breu da solidão que tua ausência criou
Encontrar-te novamente e esquecer o que passou

São tantas as ruas que eu passo sem te encontrar
E por vezes eu me perco todo tentando te achar
Talvez o meu destino ainda cruze com o teu
Num show de rock, numa esquina ou num breu.
Sejas franca contigo mesma
Eu marquei tua história
Sou um pedaço da tua vida
que ficará em tua memória

Não percas tempo escondendo 
As cinzas depois do fogo
Antes daquele  xeque-mate
Eu já entendia todo teu jogo

Então mintas para todos
Mintas também pra mim
Enganes a ti mesma
Com essa história de um fim

Só não deixe que a mentira
Engane-te por muito tempo
Abras a janela mas a feche
Se estiver forte o vento

E quando abrires os olhos
E notares que o tempo passou
Não arrependa-te de tudo
Nem mesmo do que errou

Apenas batas na porta
Mesmo endereço, mesma cidade
Encontres o cara de barbas
Barbas brancas de saudade
Guardei teus olhos em meu pensamento
Trouxe tua imagem comigo
Nela eu encontro abrigo
Abrigo, amigo.

Li pela oitava vez tua mensagem
Teu desprezo, teu rancor
Teu reflexo da dor
Vida sem amor

Encontrei cartas dentro de um livro
Molhei tua caligrafia
Por vários dias
Lágrimas de poesia

Talvez eu te encontre
Nesses encontros inesperados
Ou te guarde no passado
Qualquer forma, ao meu lado




Cotidiano
Cotação iniciando
Comércio, logística
Vendendo, comprando

Cotidiano
Surpresa à vista
Qual é a cara
da capa da revista?

Cotidiano
Homens trabalhando
Escravos modernos
morrendo e cantando

Cotidiano
Faz teu futuro
Sobe a escada
Mas não caia do muro

Cotidiano
Cidades a crescer
Humanos famintos
Por falta de poder

Cotidiano
É dia mais ano
É construir o futuro.
Mas qual é o plano?